Sem provas, Ministério Público Federal do Paraná usou retórica contra Lula, diz editorial da Folha. No texto, o jornal questiona como o "comandante máximo" da "propinocracia" na última década teria levado apenas uns trocados dos desvios praticados numa estatal do porte da Petrobras. E o pior: o MPF nem o denunciou por isso, como explica Reinaldo Azevedo de O Globo, para quem o MPF "constrangeu o meio jurídico, não apresentou provas e deu munição a Lula para crescer na opinião pública".
Veja o texto da Folha de São Paulo:
por Bernardo Mello Franco
FOLHA DE S.PAULO
A força-tarefa de Curitiba elegeu Lula como o principal alvo da Lava Jato. A escolha já era conhecida, mas havia certo pudor em anunciá-la. Isso acabou nesta quarta (14), quando o procurador Deltan Dallagnol chamou o ex-presidente de “comandante máximo” do esquema de corrupção na Petrobras.
Em apresentação transmitida ao vivo pela TV, o procurador acusou Lula de estar no centro de uma organização criminosa destinada a “saquear os cofres públicos” e assegurar sua “perpetuação criminosa no poder”. Ele resumiu a tese com um diagrama em que todas as setas apontam para o ex-presidente.
Repetindo o nome do petista a cada frase, Dallagnol o acusou de instaurar uma “propinocracia” no país. Nas palavras dele, o ex-presidente seria o “grande general” ou o “maestro da orquestra criminosa” -as metáforas transitavam entre os campos de batalha e as salas de concerto.
Num arroubo retórico, o procurador chegou a comparar Lula a um homicida que “foge da cena do crime após matar a vítima e depois busca silenciar as testemunhas”.
Apesar da contundência verbal, a força-tarefa não denunciou o petista por organização criminosa. Ele foi acusado de receber vantagens de uma só empresa, a OAS, no total de R$ 3,7 milhões. A quantia é expressiva, mas não chega perto das somas desviadas por alguns funcionários de segundo escalão da Petrobras.
Por um lado, sobram indícios de que Lula manteve relações próximas demais com as empreiteiras do petrolão. Ele ainda não deu explicações convincentes para a generosidade das empresas, que não costumam agradar políticos por filantropia.
Por outro lado, a força-tarefa parece não ter provas suficientes para sustentar que o ex-presidente era o líder de uma organização criminosa que usava as horas vagas para governar o país. Para bancar essa acusação, Dallagnol e seus colegas precisariam apresentar menos frases de efeito e mais evidências.
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